Ilha de Galápagos
A natureza comanda o charme
Um conjunto de 19 ilhas de origem vulcânica cravado no meio do Oceano Pacífico, a 1.000 km da costa equatoriana, bem que poderia se tratar de um arquipélago com clima polinésio, praias badaladas e resorts luxuosos. Graças a Deus (e a Darwin), Galápagos foi em grande parte poupado da ação predatória do homem e hoje mantém características tão especiais de fauna e flora que é visto como o maior playground do mundo para biólogos, zoólogos e qualquer cientista ou fotógrafo que tenha uma queda por natureza.Com Charles Darwin como garoto-propaganda não poderia ser diferente. O cientista inglês aportou nas ilhas em 1835 e lá passou cinco semanas observando o comportamento e as características únicas dos animais. Essa visita foi uma das bases para a Teoria da Evolução das Espécies, que revolucionou o conhecimento científico sobre a origem dos animais e sua adaptação ao ambiente em que vivem por meio da seleção natural (os mais aptos sobrevivem e procriam, perpetuando as características ideais para o meio).
É justamente por causa da seleção natural que os animais de Galápagos são tão especiais. Isolados do continente e convivendo com plantas e relevo tão peculiares, passaram por um processo evolutivo único, o que resultou em diversas espécies endêmicas – ou seja, que não existem em nenhum outro lugar do mundo. É o caso de 50% das aves do arquipélago e 90% dos répteis, entre eles a famosa tartaruga gigante.
A tartaruga, maior símbolo de Galápagos, chega a pesar 300 kg e tem vida longuíssima, de 150 a 200 anos. Isso para as cerca de 15 mil que restaram na ilha, sobreviventes da caça predatória que dizimou cerca de meio milhão delas, cuja carne era considerada iguaria em países asiáticos. Hoje há diversos programas de preservação do animal, inclusive na Estação Científica Charles Darwin, na Ilha de Santa Cruz, onde é possível ver espécimes como o solitário George – tartaruga gigante, exemplar único de sua subespécie e que se recusa a procriar.
Conhecer a Estação Científica é um dos muitos passeios ecológicos que o visitante pode fazer em Galápagos. A melhor forma de visitar as ilhas é por navio, em um dos cruzeiros que partem de Santa Cruz ou San Cristóbal (há pacotes desde o Brasil que custam a partir de US$ 3.000). Desse modo, é possível conhecer as principais ilhas sem abrir mão do conforto da cabine da embarcação. Vale ressaltar que um cruzeiro em Galápagos é bem diferente de um tradicional: não tem grande estrutura de lazer nem vida noturna agitada. É, na realidade, uma viagem de expedição, cujo foco é a observação de aves e animais marinhos.
Os roteiros variam – há versões curtas, de cinco dias pelas ilhas mais próximas (Baltra, Bartolomé, Rábida, Seymor Norte, San Cristóbal e Santa Cruz) e cruzeiros maiores, que incluem as Ilhas Isabela e Fernandina, as únicas com vulcões. Cada pedacinho do arquipélago tem sua especificidade e atração especial, e quem não se cansa de ver animais e paisagens sem igual poderia visitar todas com o maior prazer.
Santa Cruz, uma das quatro ilhas habitadas, é onde fica a maior cidade do arquipélago, Puerto Ayora – a capital do agito, com bares, restaurantes, hotéis, a Estação Científica e cerca de 11 mil habitantes. Fora da cidade, a ilha é ideal para avistar tartarugas gigantes, já que muitas vivem por lá – é também onde fica o Cerro Dragón, frequentado por flamingos e iguanas.
A capital de Galápagos é Puerto Baquerizo Moreno (cerca de 6 mil habitantes), na Ilha de San Cristóbal. Trata-se da ilha mais próxima do continente e, além de possuir estrutura para o turismo (como aeroporto e hotéis), é mais um show de natureza: praias de areia branca exibem preguiçosos leões-marinhos, que parecem posar para fotos sem dar a mínima importância para o homem. Dá pra chegar bem perto deles, o que pode ser emocionante se você for capaz de relevar o desagradável cheirinho dos animais.
Um pouco mais distantes do continente, as Ilhas Fernandina e Isabela não estão nos roteiros mais curtos de navio, mas são tão especiais que existem pacotes focados apenas nelas. Isabela (a maior do arquipélago, com 4.588 km²) possui cinco vulcões ativos, entre eles o gigante Sierra Negra, cuja trilha é o programa mais procurado por ecoaventureiros na ilha. Uma caminhada de 16 km leva até a segunda maior cratera vulcânica do mundo, com diâmetro de 10 mil metros por 9 mil metros? Quando o céu está claro, é possível avistar o interior do vulcão, com paredes rochosas de até 100 metros de profundidade e lava solidificada da última erupção do Sierra Negra, em 2006.
A atividade vulcânica mais recente da ilha foi a erupção do Cerro Azul, ao sul do Sierra Negra, que em junho de 2008 gerou alarme quanto ao impacto que poderia causar nas tartarugas gigantes da região (que escaparam ilesas).
Também em Isabela fica o ponto mais alto de Galápagos, a boca do Vulcão Lobo, que alcança 1.707 metros de altitude (por 1.852 metros de profundidade). A ilha possui um vilarejo com praia, Puerto Villamil, com hotéis simples e pousadinhas para receber turistas.
Já em Fernandina reina o Vulcão La Cumbre, um dos mais ativos do mundo, que entrou em atividade pela última vez em abril de 2009. É a ilha mais jovem do arquipélago, uma mocinha de 700 mil anos, e oferece uma boa mostra de espécies únicas, como as iguanas d’água e o gracioso pinguim-de-galápagos, que chega a até 50 cm de altura.
Todo o arquipélago é perfeito para a apreciação da vida marinha, que pode ser feita por meio de mergulhos ou a bordo de um barco com fundo transparente, de vidro, normalmente oferecido pelos navios de cruzeiro.
Por estar no centro de inúmeras correntes marítimas e misturar águas quentes e frias, Galápagos possui a segunda maior reserva marinha do planeta, atrás apenas da Grande Barreira de Corais australiana.
Dois pontos são especiais para a prática do mergulho: o norte de Santa Cruz, repleto de ilhas menores como Baltra e Seymour Norte, e a distante Genovesa. Em ambas é possível ver, com alguma sorte, além dos cardumes de peixes coloridos, pequenos tubarões, polvos, arraias e iguanas d’água. A Genovesa também é conhecida por abrigar cerca de 200 mil pássaros que voam até a ilha para procriar e fazer a maior algazarra. Há espécies bem curiosas, como o endêmico piquero de pata azul.
Quem viaja com o objetivo de desfrutar a natureza e não está preocupado com luxo e agito, vai encontrar em Galápagos o destino perfeito. Fauna incrível, acessível e emoldurada por praias é o que aguarda aquele que seguir os passos do genial Charles Darwin.
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