Sempre falamos em ”cultura brasileira”, mas não sabemos exatamente o que é isso, hoje em dia. Cultura é o quê? Uma senhora grega, de camisola, segurando uma tocha? Cultura é uma índia, negra e portuguesa, de cocar e saiote? Cultura é um museu erudito e paralítico que rima com “sepultura”? Fazemos boquinha elegante para falar em “cultura”, mas sempre sobra um gosto de alguma coisa em crise, que deve ser salva.
A impotência política para superar nosso atraso endêmico nos levou a uma supervalorização da “cultura artística”. Era nossa ilusão e consolo: “somos pobres, mas com uma cultura rica...”. Senti isso em minha juventude , quando um companheiro me disse: “Não temos nada, mas somos o ‘sal da terra’”. Fazíamos arte, filmes, música como se salvássemos o país. Agora a web é uma cachoeira de criações artísticas. Acabam os poucos artistas criando para muitos.
Antes, o subdesenvolvimento nos dava uma ”superioridade” sobre os “falsos problemas europeus”, como o absurdismo do teatro de Becket ou Ionesco, o “existencialismo alienado do social” ou o sinistro comercialismo americano. A pobreza era nossa maior riqueza. Achávamos a miséria uma nova estética – o mito de que o tosco, o povo simples e até o burro são ungidos por uma “verdade sagrada”. Essa ideia reacionária rola até hoje, haja vista o carisma triunfal do ex-presidente operário.
No entanto, as mutações culturais mais visíveis (que não enxergávamos) vieram por “irrupções” de causas materiais, de relações de produção industriais e comerciais : a cultura do café e o Modernismo; o “crash” da Bolsa em 29 contribuindo para nossa “identidade” na revolução de 30; a industria fonográfica americana e o rádio projetando a música popular dos anos de ouro; a industrialização juscelinista possibilitando a arquitetura, a bossa nova, o cinema novo; a Phillips e outras gravadoras veiculando a musica dos anos 60; a TV ensinando o povo a falar e a ver o pais. Não éramos marxistas e não sabíamos.
Sempre falávamos na democratização da cultura, das artes... Pois ela está ai... e não foi o estado nem o Ministério, nem anseios neo-românticos. Ela esta aí... Bill Gates, Jobs, as redes, os microchips mudaram o mundo... Quem diria?
E agora a mutação é mais intrincada porque não há “ma” ideia nova, uma escola, uma tendência. A mutação atual é a “contribuição milionária” de todos os desejos expressivos. Mudaram todos os suportes, as formas se multiplicam sem parar criando novas significações. Todo mundo pode fazer arte, poesia e a internet é o novo parnaso digital.
Há uma revolução de meios sem uma clareza de fins. Como será o mundo árabe? Como será a grande arte? Ainda haverá? Os meios justificam fins desconhecidos. Mesmo na louvação das irrelevâncias, ainda dorme talvez o desejo de um sentido. Olha a encrenca... A própria ideia de um debate sobre esta dúvida já é antiga.
Se fosse proposta a um jovem blogueiro, ele diria: “Pra quê?”
A impotência política para superar nosso atraso endêmico nos levou a uma supervalorização da “cultura artística”. Era nossa ilusão e consolo: “somos pobres, mas com uma cultura rica...”. Senti isso em minha juventude , quando um companheiro me disse: “Não temos nada, mas somos o ‘sal da terra’”. Fazíamos arte, filmes, música como se salvássemos o país. Agora a web é uma cachoeira de criações artísticas. Acabam os poucos artistas criando para muitos.
Antes, o subdesenvolvimento nos dava uma ”superioridade” sobre os “falsos problemas europeus”, como o absurdismo do teatro de Becket ou Ionesco, o “existencialismo alienado do social” ou o sinistro comercialismo americano. A pobreza era nossa maior riqueza. Achávamos a miséria uma nova estética – o mito de que o tosco, o povo simples e até o burro são ungidos por uma “verdade sagrada”. Essa ideia reacionária rola até hoje, haja vista o carisma triunfal do ex-presidente operário.
No entanto, as mutações culturais mais visíveis (que não enxergávamos) vieram por “irrupções” de causas materiais, de relações de produção industriais e comerciais : a cultura do café e o Modernismo; o “crash” da Bolsa em 29 contribuindo para nossa “identidade” na revolução de 30; a industria fonográfica americana e o rádio projetando a música popular dos anos de ouro; a industrialização juscelinista possibilitando a arquitetura, a bossa nova, o cinema novo; a Phillips e outras gravadoras veiculando a musica dos anos 60; a TV ensinando o povo a falar e a ver o pais. Não éramos marxistas e não sabíamos.
Sempre falávamos na democratização da cultura, das artes... Pois ela está ai... e não foi o estado nem o Ministério, nem anseios neo-românticos. Ela esta aí... Bill Gates, Jobs, as redes, os microchips mudaram o mundo... Quem diria?
E agora a mutação é mais intrincada porque não há “ma” ideia nova, uma escola, uma tendência. A mutação atual é a “contribuição milionária” de todos os desejos expressivos. Mudaram todos os suportes, as formas se multiplicam sem parar criando novas significações. Todo mundo pode fazer arte, poesia e a internet é o novo parnaso digital.
Há uma revolução de meios sem uma clareza de fins. Como será o mundo árabe? Como será a grande arte? Ainda haverá? Os meios justificam fins desconhecidos. Mesmo na louvação das irrelevâncias, ainda dorme talvez o desejo de um sentido. Olha a encrenca... A própria ideia de um debate sobre esta dúvida já é antiga.
Se fosse proposta a um jovem blogueiro, ele diria: “Pra quê?”
Arnaldo Jabor
FONTE:http://www.redebomdia.com.br/Artigo/2127/Saudades+do+futuro
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